quarta-feira, 29 de julho de 2009

Dias secos

Há tempos despoesiantes
Quando vencem a realidade dura
e as razões
e os portões
Grades escuras que separam

Fica o foco fixo
na ilusão pura da tal certeza das decisões

A chama da alma sufocada
chama pra si o abraço e a verdade
mas se afoga
na vitória folgada da razão

Um dia aprendi que razão é divisão
E apesar da minha aversão a escolas
devo admitir que esse acerto foi cheio
Me dividiu em mil
todos incógnitos
e afastou a parte que me falta

A razão entre dois e um
acabou que deu meio
Arrancou a parte que completava meu silêncio
e me ria
e prazerava
e sabia ser passarinho
e me ver fruta madura
Um bacuri

Como faz falta o silêncio
onde estão os diálogos profundos
como os olhares que arrancam a verdade
e estancam a dúvida
Uma estaca no peito feito em falácias

Me assola esse silêncio forçadamente solitário
sem o diálogo digital suado
hoje soado nos ecos da lembrança

O portão escuro que separa
espero que se desfaça
com o simples olhar duplo que não o quer tão material e visível

Assim me voltará a poesia
Porque nesse silêncio só
não consigo que algum recanto seja meu
Eu, dividido, só sei quase ser...

2 comentários:

Amanda Azis Alexandre disse...

Se tempos despoesiantes produzem poesias como essa, benditos sejam! Desde já uma de minhas favoritas.

Amanda Azis Alexandre disse...

A verdade é que o mérito é todo do poeta que consegue fazer florescer entre pedras e razões. Perdão por não ter escrito isso no comentário anterior... sabe como é... efeito retardado rsrs