segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dessóbrio

Quanto mais te sei
e menos te imagino
mais te quero
e mais te sobro

Cada vez menos sóbrio
nos des-dobro

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Achados e perdidos

O silêncio preenche o vazio que nos revela escancarado à altura dos nossos olhos.
Ficamos buscando respostas nos conteúdos entre capas de livros sem notar que elas estão em nós.
Despercebemos que as perguntas que nos levarão à luz estão sempre sob nossos próprios pés,
olhando-nos ávidas para serem encontradas.
Entre nada e tudo estamos todos,
o espaço e o tempo incálculável.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Anotações de viagem III

A fé beira Aparecida do Norte, que beira o Rio Paraíba do Sul, que é beirado por dois lados de terras, que apontam pra todos os sentidos e por isso são só as margens, sem rumos. Nem Leste, nem Oeste. Só as beiras de lá e de cá.
Domingalmente, milhares de romeiros crentes e curiosos passam pela cidadezinha a fim de ver a imagem negra de Nossa Senhora da Conceição. E pra dar conta do gentaréu foi erguido um santuário onde tem sala pros milagres, pros falecidos, pros pecadores que se publicam, pras velas, pros textos, pras imagens e pros famintos. Na sala de milagres tem agradecimentos pra doença curada, pra morte escapada e pra dificuldades vencidas, como primeiro lugar em campeonato de sinuca, passamento em concurso, vitória no boxe... A sorte desses vencedores é que os adversários ou tinham fé de menos ou se valiam de outro santo menos empenhado.
A basílica é uma lindeza e assim também é o mirante, de onde se vê o rio que desafogou um corpo de uma imagem que poderia ser qualquer coisa, e depois uma cabeça que veio confirmar a senção de uma santa – porque é a cabeça que nos define.
Nesse templo, as paredes são cobertas de tijolinhos que ficam à vista, pra que talvez outras coisas não fiquem...
Pra aproveitar essa viagem, entrei na igreja e rezei. Na esperança de ver Deus, olhei pra cima e vi uma pomba, que voou. Era só uma pomba – minha razão dizia. E então veio uma outra e voou beirando minhas idéias.
Meus olhos silenciaram e quiseram molhar meu rosto. Mas era só duas pombas – minha razão insistia. De tanta razão me dividi. Nem chorei, nem deschorei.
Fui nem eu, nem os outros.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Além...

Seus espinhos são inúteis quando seus olhos te revelam
Não me arranharão enquanto seus abraços me chegarem inteiros
e nossos

Sua doçura não se sufoca com esses restos de realidade inventada

Te descubro em cada verdade que te escapa
silenciosa...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Re....

Rebojo labial
tocante carnal
abraço-fusão mudo-falante
como antes nunca
Que seja renovo quando e enquanto puder
Rebom, retátil, regozo...

domingo, 23 de maio de 2010

Encadeamento

- Vá, vá, rapaz...
- Aonde, vovó raposa?
- Viver, oras...
- A que horas?
- Bolas...
- Bobeei?
- Foi bobaço!
- E o que faço?
- Vá pro espaço.
- Vou proseando?
- Vá pensando.
- Pra compensar meu atraso?

sábado, 22 de maio de 2010

Balanço de 2009

Perdi algumas pessoas nelas mesmas
e ganhei outras em outras e nelas
Descobri novas músicas antigas
e relembrei outras mais
Conheci outros cantos do meu país
e outros cantos do meu país
Abandonei meus poemas
mas nunca minha poesia
Fiz mais músicas
mas foram poucas
Aprendi a importância do círculo
e do triângulo
Aprendi perder e ganhar
tocar por tocar
e escrever por escrever...

Mas fazer por fazer deve ser íntimo
e esse rabisco não deveria te chegar.

Anotações de Viagem V

1.
Carro quadrado
Jarro que surra a vazão
Cerra a visão
Varre o barro
Embirra e emburra
Berra pelo movimento
Borra a mente
e corre o parado

Carro airado
Condiciona o ar
Descaatinga
Descerra
Desmateia
Enquadra e televisiona a paisagem

Carro quadrado
Airado
Cerrado
Ensimesmado

Descarreia o despovo
pra que se repoveie
e queime e sue
como quem move!

Abra as portas pro sertão
pra cada um ser tão vivo
quanto os que estão do outro lado do vidro

2.
Todos secos
Os homens
e as plantas

Todos secos
se vistos de longe

3.
Entre o buriti e o bacuri
Soou o sino
Fino...
Era a vaca desescondida do sertanejo

4.
Entre Carolina e Nova Iorque,
me emaranhei...

5.
Na lida muda, sem luva
sem moda ou moeda
a muda viva vale ouro

O manejo leve da enxada leva a vida à vida.

Depois o toque-que toque-que toma a vez
e mantém vivo o sertanejo.

Uma enxada e um pandeiro.
Padeiros pra diferentes fins.

Análise

Reco-reco reco-reco
Tem som de que comida?
Farinha! disse o Baiano.
Chocolate! teimou outro.

Reco-reco reco-reco
- Obviamente é chocolate! Ouve um teco...
Cê’tá num beco! Só pode ser chocolate!

Um ratinho que ouvia, jurava ser som de queijo.

Boa Noite

Uma boa noite
mas sem sonhos vivíveis

Os sonhos dos sonos
são nossas chances de correr sobre o mar
de ser flor e beija-flor
e diretor

Sonhar é viver por dentro
e para dentro

Sonhar é ser você
pra você

Uma boa noite
com os sonhos seus...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Explicação sobre esse silêncio...

Minha violência interna te chega sem palavras ou pontos. Meus restos e novidades entopem a viela que me leva e te traz. Saída para o que me fere e cura.
Eu violo...
Você que só me lê, espere pronto a enxurrada, mas permaneça sentado.