terça-feira, 28 de abril de 2009

Terra de violas

Um vento montanhês acolhe e causa deleite.
Há predomínio de pedras e prosas.
O rio completa o verde
e tudo é de um prazer irrecusável.

Sabará dá preferência a violas
e se faz como um ventre
pra conceber essas caipiras-caboclas.
Basta saber fecundar bem.

Desde que gozo mais com gosto de chão
me são urgentes as dez cordas.
Se não me permito a pressa
é porque os ditos do povo previnem.

São Tomémênte visitei Sabará pra averiguar
se dali poderia vir uma verdadeira sertaneja.
Não precisou muito para decidir.
De avistar aquele povoado percebi:
“Se nascer aqui, nascerá sorrindo”

E assim eu quis.
Não vejo a hora de violar.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Anotações de viagem IV

Ida

O sol me acenou boa tarde através do vidro escurecido.
Ao meu lado uma senhora tagarelou até não mais poder.
De tédio, dormiu.
Naquele momento
quase tudo eu despensava.
De saber que iria chegar no meu Recanto.
As coisas eram belas e só.

Re-volta

Também havia sol.
O interior do ônibus
(espelhado no vidro)
disputava com a paisagem externa.

Lembrei da velha tagarela
e tive a impressão de que ela nunca parava pra pensar.
Mas de toda forma,
tinha essa uma vantagem
sobre quem foi bem domado na escola.
Falava.

Depois fiquei observando
o que passava lá fora
desde a hora em que tudo era o que era
até que fossem somente contornos
e depois não mais existissem.

Fiquei nessa alienação automotiva.
Do outro lado do vidro,
só faróis me eram reais.
Nem sequer uma árvore
ou estrela bem definida.

Tudo que me sobrou era artificialidade,
gente desconhecida
e um pavoroso reflexo de mim mesmo
rascunhando essas linhas.

Senti nisso uma realidade urbana.
Terrível realidade de restos e sustos.

Professores

Foi uma Professora Terezinha
que eu achava ser Tereza
quem primeiro me ensinou a desarrogância.
Desde lá eu finjo ser humilde,
mas nem sempre convenço.

Antes disso,
ela me ensinou o despoesio.
Disse que falar caipirês não podia,
que córgo não existia...
Eu (arrogante) boquejei
porque sempre teve um corguinho na chácara do meu avô!

Se eu seguisse evoluindo naquela crença dela
e não tivesse descoberto a poesia Manoeliana
provável que só nadaria em piscina.

Foi um amigo de versos
quem me apresentou Manoel de Barros
e ensinou que Corguinho
era sim diminutivo de corgo.
Depois ele quis me roubar dois livros
do pantaneiro.
Não deixei.
Eram as únicas duas gramáticas que eu tinha.