sexta-feira, 18 de junho de 2010

Anotações de viagem III

A fé beira Aparecida do Norte, que beira o Rio Paraíba do Sul, que é beirado por dois lados de terras, que apontam pra todos os sentidos e por isso são só as margens, sem rumos. Nem Leste, nem Oeste. Só as beiras de lá e de cá.
Domingalmente, milhares de romeiros crentes e curiosos passam pela cidadezinha a fim de ver a imagem negra de Nossa Senhora da Conceição. E pra dar conta do gentaréu foi erguido um santuário onde tem sala pros milagres, pros falecidos, pros pecadores que se publicam, pras velas, pros textos, pras imagens e pros famintos. Na sala de milagres tem agradecimentos pra doença curada, pra morte escapada e pra dificuldades vencidas, como primeiro lugar em campeonato de sinuca, passamento em concurso, vitória no boxe... A sorte desses vencedores é que os adversários ou tinham fé de menos ou se valiam de outro santo menos empenhado.
A basílica é uma lindeza e assim também é o mirante, de onde se vê o rio que desafogou um corpo de uma imagem que poderia ser qualquer coisa, e depois uma cabeça que veio confirmar a senção de uma santa – porque é a cabeça que nos define.
Nesse templo, as paredes são cobertas de tijolinhos que ficam à vista, pra que talvez outras coisas não fiquem...
Pra aproveitar essa viagem, entrei na igreja e rezei. Na esperança de ver Deus, olhei pra cima e vi uma pomba, que voou. Era só uma pomba – minha razão dizia. E então veio uma outra e voou beirando minhas idéias.
Meus olhos silenciaram e quiseram molhar meu rosto. Mas era só duas pombas – minha razão insistia. De tanta razão me dividi. Nem chorei, nem deschorei.
Fui nem eu, nem os outros.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo isso Bruno! parabéns poeta!


Maria Isabel Sartório Santos