sexta-feira, 24 de abril de 2009

Anotações de viagem IV

Ida

O sol me acenou boa tarde através do vidro escurecido.
Ao meu lado uma senhora tagarelou até não mais poder.
De tédio, dormiu.
Naquele momento
quase tudo eu despensava.
De saber que iria chegar no meu Recanto.
As coisas eram belas e só.

Re-volta

Também havia sol.
O interior do ônibus
(espelhado no vidro)
disputava com a paisagem externa.

Lembrei da velha tagarela
e tive a impressão de que ela nunca parava pra pensar.
Mas de toda forma,
tinha essa uma vantagem
sobre quem foi bem domado na escola.
Falava.

Depois fiquei observando
o que passava lá fora
desde a hora em que tudo era o que era
até que fossem somente contornos
e depois não mais existissem.

Fiquei nessa alienação automotiva.
Do outro lado do vidro,
só faróis me eram reais.
Nem sequer uma árvore
ou estrela bem definida.

Tudo que me sobrou era artificialidade,
gente desconhecida
e um pavoroso reflexo de mim mesmo
rascunhando essas linhas.

Senti nisso uma realidade urbana.
Terrível realidade de restos e sustos.

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