sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Moça Pimenta, Mulher Bonita

1.
Que moça bonita naquela pracinha
Sentada na grama
Com brilho de chão e cabelos no vento
Sorriu margarida
Cantou passarinha
E flauteou com carinho
A mesma canção que dos olhos saía
De tão bonita me fez um ninho
Primavera...


2.
Dedo de moça
Marcante, se esboça
Comari
Picante, caliente, gostosa
Pimenta biquinho
Suave, macia
E a pimenta rosa
Cheirosa, cheirosa
Pimenta vermelha
Pimenta do reino,
Aji, chili, peper, da branca ou de cheiro
Me gusta! Me Gusta!
Yo quiero! Yo quiero!


3.
Ocê é uma menina moça
Uma muié madura
Tudo junto, amontoado
em uma me'ma figura

Ché...*
nem um cafezá frorido
nem um roseirá bonito
nem me'mo um pavão se amostran'o
é mai' formoso que ocê
cantan'o, sorrin'o e dançan'o

Óia que se ocê quisé
eu largo a canoa, a roça
o caniço e a paioça
Subo co'cê num cavalo
pego m'nhas coisa na tuia
e fujo de mala e cuia

Nóis junto vai trabaiá
cantá, dançá e se amá
seja nos buritizá, na praia o no pantaná

Se ocê quisé nóis foge
Se ocê quisé nóis fica
Se ocê quisé nóis foge e fica
De tanto que ocê é bonita



Nota: Ché é uma palavra do dialeto itapetiningano que possui muitos significados. Nesse caso aqui se assemelha ao "capaz" do goiano. Quer dizer: de jeito nenhum, impossível...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dessóbrio

Quanto mais te sei
e menos te imagino
mais te quero
e mais te sobro

Cada vez menos sóbrio
nos des-dobro

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Achados e perdidos

O silêncio preenche o vazio que nos revela escancarado à altura dos nossos olhos.
Ficamos buscando respostas nos conteúdos entre capas de livros sem notar que elas estão em nós.
Despercebemos que as perguntas que nos levarão à luz estão sempre sob nossos próprios pés,
olhando-nos ávidas para serem encontradas.
Entre nada e tudo estamos todos,
o espaço e o tempo incálculável.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Anotações de viagem III

A fé beira Aparecida do Norte, que beira o Rio Paraíba do Sul, que é beirado por dois lados de terras, que apontam pra todos os sentidos e por isso são só as margens, sem rumos. Nem Leste, nem Oeste. Só as beiras de lá e de cá.
Domingalmente, milhares de romeiros crentes e curiosos passam pela cidadezinha a fim de ver a imagem negra de Nossa Senhora da Conceição. E pra dar conta do gentaréu foi erguido um santuário onde tem sala pros milagres, pros falecidos, pros pecadores que se publicam, pras velas, pros textos, pras imagens e pros famintos. Na sala de milagres tem agradecimentos pra doença curada, pra morte escapada e pra dificuldades vencidas, como primeiro lugar em campeonato de sinuca, passamento em concurso, vitória no boxe... A sorte desses vencedores é que os adversários ou tinham fé de menos ou se valiam de outro santo menos empenhado.
A basílica é uma lindeza e assim também é o mirante, de onde se vê o rio que desafogou um corpo de uma imagem que poderia ser qualquer coisa, e depois uma cabeça que veio confirmar a senção de uma santa – porque é a cabeça que nos define.
Nesse templo, as paredes são cobertas de tijolinhos que ficam à vista, pra que talvez outras coisas não fiquem...
Pra aproveitar essa viagem, entrei na igreja e rezei. Na esperança de ver Deus, olhei pra cima e vi uma pomba, que voou. Era só uma pomba – minha razão dizia. E então veio uma outra e voou beirando minhas idéias.
Meus olhos silenciaram e quiseram molhar meu rosto. Mas era só duas pombas – minha razão insistia. De tanta razão me dividi. Nem chorei, nem deschorei.
Fui nem eu, nem os outros.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Além...

Seus espinhos são inúteis quando seus olhos te revelam
Não me arranharão enquanto seus abraços me chegarem inteiros
e nossos

Sua doçura não se sufoca com esses restos de realidade inventada

Te descubro em cada verdade que te escapa
silenciosa...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Re....

Rebojo labial
tocante carnal
abraço-fusão mudo-falante
como antes nunca
Que seja renovo quando e enquanto puder
Rebom, retátil, regozo...

domingo, 23 de maio de 2010

Encadeamento

- Vá, vá, rapaz...
- Aonde, vovó raposa?
- Viver, oras...
- A que horas?
- Bolas...
- Bobeei?
- Foi bobaço!
- E o que faço?
- Vá pro espaço.
- Vou proseando?
- Vá pensando.
- Pra compensar meu atraso?

sábado, 22 de maio de 2010

Balanço de 2009

Perdi algumas pessoas nelas mesmas
e ganhei outras em outras e nelas
Descobri novas músicas antigas
e relembrei outras mais
Conheci outros cantos do meu país
e outros cantos do meu país
Abandonei meus poemas
mas nunca minha poesia
Fiz mais músicas
mas foram poucas
Aprendi a importância do círculo
e do triângulo
Aprendi perder e ganhar
tocar por tocar
e escrever por escrever...

Mas fazer por fazer deve ser íntimo
e esse rabisco não deveria te chegar.

Anotações de Viagem V

1.
Carro quadrado
Jarro que surra a vazão
Cerra a visão
Varre o barro
Embirra e emburra
Berra pelo movimento
Borra a mente
e corre o parado

Carro airado
Condiciona o ar
Descaatinga
Descerra
Desmateia
Enquadra e televisiona a paisagem

Carro quadrado
Airado
Cerrado
Ensimesmado

Descarreia o despovo
pra que se repoveie
e queime e sue
como quem move!

Abra as portas pro sertão
pra cada um ser tão vivo
quanto os que estão do outro lado do vidro

2.
Todos secos
Os homens
e as plantas

Todos secos
se vistos de longe

3.
Entre o buriti e o bacuri
Soou o sino
Fino...
Era a vaca desescondida do sertanejo

4.
Entre Carolina e Nova Iorque,
me emaranhei...

5.
Na lida muda, sem luva
sem moda ou moeda
a muda viva vale ouro

O manejo leve da enxada leva a vida à vida.

Depois o toque-que toque-que toma a vez
e mantém vivo o sertanejo.

Uma enxada e um pandeiro.
Padeiros pra diferentes fins.

Análise

Reco-reco reco-reco
Tem som de que comida?
Farinha! disse o Baiano.
Chocolate! teimou outro.

Reco-reco reco-reco
- Obviamente é chocolate! Ouve um teco...
Cê’tá num beco! Só pode ser chocolate!

Um ratinho que ouvia, jurava ser som de queijo.

Boa Noite

Uma boa noite
mas sem sonhos vivíveis

Os sonhos dos sonos
são nossas chances de correr sobre o mar
de ser flor e beija-flor
e diretor

Sonhar é viver por dentro
e para dentro

Sonhar é ser você
pra você

Uma boa noite
com os sonhos seus...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Explicação sobre esse silêncio...

Minha violência interna te chega sem palavras ou pontos. Meus restos e novidades entopem a viela que me leva e te traz. Saída para o que me fere e cura.
Eu violo...
Você que só me lê, espere pronto a enxurrada, mas permaneça sentado.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Em amor dados

Lá mora
Na morada da namorada
Amantes alados
Ao lado voam
N'amor'ados
Avante como nunca antes

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sorriso

O riso raso
não é branco
É rosa
Estica os lábios
que não rezam e estão rotos
de tanto insistir nesse rito pra estar reto

(se ruto fosse cor, eu daria um jeito de enfiar aqui um rato ruto)
Voltando àquela reta...

Como irrita o riso raso!
Esse tipo merece o ralo
É mesmo a ralé
E outro que é
é o riso amarelo
mas esse tema esta no prelo
e eu prezo por acabá-lo sem pressa

Pós

Um bar e um copo
Um lar e um colo
O mar ou o solo?

Cair lá do topo?
Não topo!
É um tapa
um soco
É esmagar meu pólo
tirar-me o mapa
É fazer a rapa!

Um bar, um copo e um colo
No mar, um lar...

Seria um consolo...

Dias secos

Há tempos despoesiantes
Quando vencem a realidade dura
e as razões
e os portões
Grades escuras que separam

Fica o foco fixo
na ilusão pura da tal certeza das decisões

A chama da alma sufocada
chama pra si o abraço e a verdade
mas se afoga
na vitória folgada da razão

Um dia aprendi que razão é divisão
E apesar da minha aversão a escolas
devo admitir que esse acerto foi cheio
Me dividiu em mil
todos incógnitos
e afastou a parte que me falta

A razão entre dois e um
acabou que deu meio
Arrancou a parte que completava meu silêncio
e me ria
e prazerava
e sabia ser passarinho
e me ver fruta madura
Um bacuri

Como faz falta o silêncio
onde estão os diálogos profundos
como os olhares que arrancam a verdade
e estancam a dúvida
Uma estaca no peito feito em falácias

Me assola esse silêncio forçadamente solitário
sem o diálogo digital suado
hoje soado nos ecos da lembrança

O portão escuro que separa
espero que se desfaça
com o simples olhar duplo que não o quer tão material e visível

Assim me voltará a poesia
Porque nesse silêncio só
não consigo que algum recanto seja meu
Eu, dividido, só sei quase ser...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ao amigo poeta...

Um amigo, ao ler o "Olhar poético", sugeriu que eu conçertasse minha vida...
Me previniu que no Ç posso ter o C e o S. Acho que ele ganhou os direitos daquele escrito meu.
A poesia está em sua veia e a veia em seu nome.
Veia poética.
Por dessaber isso ele se queixa.
O que posso é incentivar aquele talento, nada lento...
Vai veia! Adelante veia! Go veia! Nos derrama sua poesia, que quem ela espia, se esperta!
Será que adianta o inglês?
Como diz o povo (eu sempre repito): é certo que não atrasa.

A todo poeta é saudável ex-pôr sua poesia .
Noutro caso ela o implode.

Melhor é que seja no papel...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Olhar poético

Minha vida estava um desacordo só
Agora eu acordei
Pus poesia em cada dia
Com cautelas estéticas e poéticas
Fantasia e melodia
Acordes...

Enfim concertei minha vida
Porque só consertá-la seria pouco
Preciso sempre de um canto para os meus ouvidos
E outro para minha intimidade
É por isso que se os sentidos são muitos
Escolho o do caminho mais belo

Os outros deixo à flor da pele...

Lembranças

Quando vi a flor daquela laranjeira
Me lembrei de você no futuro
Porque poetas se lembram...

E quando você cantou
Me lembrei daquela música quando casaremos
e dos seus olhos quando nascerão nossos filhos

Nossa tarde me fez lembrar tanta coisa
Que quase não acredito

Por um fio não pensei ser invenção

Do céu

Vista de avião é inversão.
Se é noite, o céu vai pro chão
(em não havendo cidades,
mas só luzes de fazendas e sítios).
Quando as cidades aparecem
iluminam as nuvens
pra gente poder ver que as nuvens têm rugas.

Se é dia,
lá de cima a gente enxerga
que nem só cerca divide as terras,
mas as cores de verde, marrom e etc.
Há mais cores na etc.
que a vista destreinada não ajuda ver.

No céu tem um infinito
que impressiona ser mar
com ondas quebrando e tudo.
Mas não é.
É só nuvem e só.
E céu e fundo.

No fundo desse que nem oceano
parece que as coisas da Terra
estão como que afundadas pelo dilúvio.

As nuvens tão brancas me esclareceram
a esperteza pra brancos que os esquimós precisam.

O menino comigo queria correr nas nuvens
e pular naquele macio.
Eu não deixei,
porque nuvem não tem chão, nem teto.

Ali eu vi como as cidades imitam perfeitamente as maquetes.
Andar de avião é se aprimorar pra maquetes.
Do alto tudo se vê.
É por isso que Deus quis o céu pra morar.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Terra de violas

Um vento montanhês acolhe e causa deleite.
Há predomínio de pedras e prosas.
O rio completa o verde
e tudo é de um prazer irrecusável.

Sabará dá preferência a violas
e se faz como um ventre
pra conceber essas caipiras-caboclas.
Basta saber fecundar bem.

Desde que gozo mais com gosto de chão
me são urgentes as dez cordas.
Se não me permito a pressa
é porque os ditos do povo previnem.

São Tomémênte visitei Sabará pra averiguar
se dali poderia vir uma verdadeira sertaneja.
Não precisou muito para decidir.
De avistar aquele povoado percebi:
“Se nascer aqui, nascerá sorrindo”

E assim eu quis.
Não vejo a hora de violar.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Anotações de viagem IV

Ida

O sol me acenou boa tarde através do vidro escurecido.
Ao meu lado uma senhora tagarelou até não mais poder.
De tédio, dormiu.
Naquele momento
quase tudo eu despensava.
De saber que iria chegar no meu Recanto.
As coisas eram belas e só.

Re-volta

Também havia sol.
O interior do ônibus
(espelhado no vidro)
disputava com a paisagem externa.

Lembrei da velha tagarela
e tive a impressão de que ela nunca parava pra pensar.
Mas de toda forma,
tinha essa uma vantagem
sobre quem foi bem domado na escola.
Falava.

Depois fiquei observando
o que passava lá fora
desde a hora em que tudo era o que era
até que fossem somente contornos
e depois não mais existissem.

Fiquei nessa alienação automotiva.
Do outro lado do vidro,
só faróis me eram reais.
Nem sequer uma árvore
ou estrela bem definida.

Tudo que me sobrou era artificialidade,
gente desconhecida
e um pavoroso reflexo de mim mesmo
rascunhando essas linhas.

Senti nisso uma realidade urbana.
Terrível realidade de restos e sustos.

Professores

Foi uma Professora Terezinha
que eu achava ser Tereza
quem primeiro me ensinou a desarrogância.
Desde lá eu finjo ser humilde,
mas nem sempre convenço.

Antes disso,
ela me ensinou o despoesio.
Disse que falar caipirês não podia,
que córgo não existia...
Eu (arrogante) boquejei
porque sempre teve um corguinho na chácara do meu avô!

Se eu seguisse evoluindo naquela crença dela
e não tivesse descoberto a poesia Manoeliana
provável que só nadaria em piscina.

Foi um amigo de versos
quem me apresentou Manoel de Barros
e ensinou que Corguinho
era sim diminutivo de corgo.
Depois ele quis me roubar dois livros
do pantaneiro.
Não deixei.
Eram as únicas duas gramáticas que eu tinha.

terça-feira, 31 de março de 2009

O violeiro

E vai viola
E vão...

Viu nela fertilidade
Nas cordas
Na forma
No canto

E vão Vihuelas
Sonoras
De veras

Esse poema
Homenageia o violeiro
E diz seu nome
Sem o dizer

E vão violas...
E vão vihuelas...

Amigos

Não me confunda.
Ou logo me funda
num único eu-você.

Não mais me engane.
Ou me afane
de vez a voz.

Oh, Sir...
Já sou mulher
que sabe o que quer.

Você é sincero?
Não sei se eu quero
um re-sofrer.

Não leve a mal.
Essa amizade perdeu a cor.
Meu receio deixou branca
nossa última estrofe...

Velório

Em dia de morte
fica aquele choro de pré-saudade.
Aquele choro medroso de não saber
se é céu ou inferno.

Medo de ser céu pra um
e inferno pro morto
(vice-versa, Deus me livre!)
e não haver reencontro.

Em dia de morte
palavreado não desfaz tristeza
e um abraço vale mais que um poema.

Se tentasse ser consolo,
esse escrito falharia.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Words through a Hug

My fellow poet,
follow me.
Feel the fly.
Find fertility
on the fingerboard.

My fellow poet,
feel what’s feelable.
Be always the poet
I’ll like to call
my fellow...

terça-feira, 17 de março de 2009

Roberto (retrato letrês)

Roberto é aberto
(aberolado também)
Tem idéias robustas
Roubadas?
O que não é?

Roberto teve berço
(barganha também)
É bem barulhento
Brilhante?
Inquestionavelmente o é!

Roberto afanou pensamentos voantes sem dono.
Trapaceou o espaço.
Torceu-o, virou-o, esticou-o e fez Arte.

Roberto sabe ousar
sabe ver cor no vazio
ver forma no vento
brio no que é vil

Roberto diria:
- E o que é vil? Se abra!

PS – Arteiro o povo que qui-lo francês
Mas bem não colava ele ser Robertô
Pra um nome ficar franco-bem-brasileiro
Sobrou pro maneiro chamar-se: Bertô.

sábado, 14 de março de 2009

Consolo

Em momentos de tristeza
tomar banho de chuva despiora
E se não há gotejo das nuvens
invento a minha precipitação
Ela tende a ser letresca
ou dedilha-sona-da
E, sempremente, me lava...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Ao Maestro

Quando a prosa é escrita poesialmente,
me calo e contemplo.
Leio e releio,
afim de encontrar mais e mais
naquelas três ou trinta linhas.

Avoado,
me esqueço de que internet
não é tão inter assim.
É extra, fora,
fria, falsa.

Na webnação
não há choro, nem riso,
nem olhos, nem aura...
Portanto, maestro,
perdoe meu silêncio.

Não foi por desentender o fraseado,
mas por entendê-lo demais.
Tive que calar e contemplar.
Pena que o dessom webtolado não suspira,
nem nada...

Ontem mesmo reli
aquelas poucas linhas.
Mas re-me-escondi.
Por medo de voltar ao mundo,
onde tudo dói mais.

Agradeço seu poesiar prosês.
Exato, inspirador,
comovedor, respeitador.
Humano, equilibradamente humano.
Que também o seja sua batuta.

PS – Fico ‘gradecido por me motivar poesia depois desse mês sem graça.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sakurakai tocadora

Na espera de um sorriso
a menina tocou sua flauta.
Não teve medo, nem calma,
mas conseguiu ser leve.
De modo simples encantou o ouvinte,
que chorou.
Não se desapontou por ter percebido
essa maneira dele sorrir.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Soneto ao José

Azulberante foi idéia boa
Vinda de um poeta auto-reprimido
De imaginário por ele contido
Não pude deixar a palavra à toa

Hoje menino um pouco vivido
Sua imaginação quase que voa
Queria ser conhecido em Lisboa
Mas tem ficado mais e mais metido

Depois de ver o céu azulberante
Não o contenta Portugal e Espanha
Quer mesmo ver o mundo o aplaudindo

Com seu violão quer fazer façanha
Fazer escalas como o Paco: rindo
Não quer ser menos que da guarda avante...

Recanto

Nosso recanto recebe com pedido: “Quem vier, de onde vier, venha em paz...”. Capricho de mamãe, mas que orienta. E segue mais: “Não jogue lixo no chão, chão é pra plantar semente”; “Não pule na água daqui, você poderá se machucar!” e vai. O menos obedecido é fácil prever, porque graça de represa é pular de bomba e de mergulhão e quando o assunto é farra, obediência desfica.
O luxo lá é o aconchego rural e o muito amor que se pode ver. É um lugar onde a gente se descobre ao perceber o que rodeia. Foi minha ensinança de que neon alaranjado é sol poente e que flash é relâmpago descente. Nessa observância pude ver que só o céu dali é azulberante, e que até seu turvado – quando é tempo dele regar a roça – tem aquela beleza de firmamento. Ademais porque é nesse momento que o pasto enverdece, a horta ematece e a passarada emudece pra depois irromper em renova cantoria.
Se o aguaçal exagera, a terra faz morro pra dentro e o represado transborda fazendo vazar água e lambari. Quando o aguaceiro seca todo o pasto vira um lambarizal – porque lambari não é peixe grande o suficiente pra se segurar na represa, nem pequeno o bastante pra nadar no meio da grama – e acaba que vem o sol e eles morrem de calor e falta d’água. Se um corre pra tentar salvar os bichinho’, não adianta muito, mas também não atrasa, porque os poucos que são salvos, ‘tão salvos e pra eles valeu.
No recanto, além de peixe, galinha (umas da Angola), ganso, pavão, peru, passarada que revoa e cavalo, tem também um tanto de gado inteiro, mas que meu pai conta só pelas cabeças. Imagino que seja porque cabeça de boi é de alardear, já que chifre... é chifre... Quando o boi não tem cornos, imagino que por só tradição, a contagem não muda e continua valendo apenas o coco.
Se gente urbana chega ao recanto, logo se vê a alegria quando ela avista uma calçada ou um cimentado. Claro que isso eu passo, porque além de salvar seu tênis em rápido, também brota aquela sensação de reencontro com ela mesma e sua origem – como se o homem tivesse vindo do concreto! – e é igual assim que me sinto quando em cidade miro um mato e mais sorrio, principalmente em havendo passarinho. Sei que ali me correspondo.
Nosso recanto não cabe num papel, nem numa tela, mas cabe no olho apertado pelas pálpebras, que é a relembrança de quem passou, repassou e ali sorriu.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

------ (Poema escrito em junho de 2007)

Quis ouvir Luíza
Ela fitou-me
Fitamo-nos
Ela desviou o olhar
Fitou o chão
Voltou a mirar-me
Insistiu
Nos amamos muito naquela hora
Ela levantou-se,
não podia...

Arco-íris

Arco-íris é o sol colorindo a imagem celeste.
É o céu com mais brilho, abrigando sete tons,
que sem números seriam IIIIIII cores.
Pena que adulto estraga o espontâneo,
senão arco-íris seria sempre IIIIIII,
e bastaria...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SMS

Na veneziana
o vento vem vozeando você.
Sinto o sopro e te bom dio
sem voz, nem violão.
Virtual...

sábado, 24 de janeiro de 2009

O.olhar de uma Satiko da Silva

O canto da banda de pássaros
anuncia o renascer de um Sol Epitácio
com cheiro de rio e divisa estatal.
É por ser só o que é
que o audiovisual desse recomeço impressiona a menina
e aumenta sua solidão ao imagear-lhe saudade.

Resposta à pergunta: o que é o poeminha miojo?

Poeminha miojo
é brinquedo letrês
Você pede palavras
ao gosto do freguês
O que vale é a idéia
que a imaginação fez
O escrito é instantâneo
feito em bom português
Às vezes erudito
outrora caipirês
Pode até haver rima
e métrica de seis
Mas se for uma prosa
já não é poemês...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Para a poeta que me ensinou o "poeminha miojo": Mariana Manse (palavras dadas: lágrimas, silêncio, imensidão, esperança, fim)

Lágrimas rolaram naquele silêncio
que era uma imensidão de ruídos matenses.
Um choro que o sereno plantou no folhal.
Apesar do medo de ser desmatagado
subsistia gramalmente a esperança
de que aquele não fosse o fim...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

------ (poema escrito em 24/02/2006)

Hoje morreu Francisco
(78 anos)
Francisco que fora bom homem
Bom pai
Bom marido
Bom tio
Bom amigo

Francisco
que fora gentil

Francisco
"- Um santo"
Partiu.
Havia cumprido sua missão.
Somente e somente por isso
partiu...

Hoje morreu Alan
(1 ano e 5 meses)

Anotações de Viagem II

Serração

1.
O andar de carro
impede cheirar o multi-verde da serra.
Só dá mesmo pra olhar por detrás do vidro,
barreira glássica.
Em tempos de andar de a pé
e viagem de a carroça
fazer rastro tinha gosto de mato.
Meu avô foi homem de sorte,
mas depois comprou um Jeep.

2.
Na classe dos mateiros
tem o pantaneiro
que só conheço de ouvir falar
tem o roceiro
à moda em que nasci
e tem o serreiro
que vejo vez por ano
em olhar glássico-carral.
Mirada vidreira mesmo.

Vez e meia apeio o carro
e vejo que serreiro é gente gente
além de vendedor de mel
e badulaque de madeira.
Dou um aperto de mão e agradeço
me dar gosto de abelha
já que gosto de verde ficou comprometido.

3.
Lá no longe da serra
tinha um curral
cercado por verde e verde só.
Quilômetro em frente
(curral em vista perdida)
tinha casas, carros
e mais bichos que não bois.

Aquele gado encurralado
decerto que sofre de solidão

4.
Viagem de a cavalo
também tinha seus defeitos
Não formava fila lenta
nem parava por excesso de transporte
o que dava menos quantidade de encontro.
Apesar de que
se dava encontro era de verdade,
porque cavalo não permite ar-condicionado.


Soprados em brisa

5.
O mar está empinando pro rumo do horizonte
como de costume
O céu declina pro mesmo lado
As nuvens estão pintadas de rosa
vermelho claro, laranjado, azul, roxo,
e segue mais.
Culpa do sol que brinca de colorir.
Mar e céu se tocam e ali findam
pra mó’de começar o devaneio

6.
Quando o mar do lado do Chile engole o sol, provável que o pueblo assusta sem saber se ele volta pela cordilheira no outro dia. Se eu não soubesse que o mar vizinho do Brasil é que cospe aquele fogaréu quando é tempo de clarear e ideiasse que é a terra que engole o as-luz-tro na hora boa pra noite, decerto que teria duvid’assombrosa. Como sei que a façanha se dá de mar a mar, só tenho um medo, que é do sol a-fogar.

7.
Quando a lua fica nítida
e vira o astro da noite
mar e céu ficam sem cor
(Quando o sol vai embora, só deixa tinta pra lugar onde tem luz elétrica, fogo ou lampião a gás)

Do mar sobram sorrisos
e do céu gotas de suor
(refletindo o clarão da cidade)
São sinais de um longo dia de azul

8.
A praia genteou a ponto de não caber gaivota
Sirizinho chega esbugalhar pret’olho
quando se desemburaca

9.
O mar fez agrado e transpareceu.
Dia por dia não turvou
nem impediu pular morro d’água
que é o que faz gosto nessas bandas de cá

Em represado, quando passa canoa
a gente logo pensa:
Se fosse um navio...

10.
Nadar em corr’go não instruciona pra onda
‘caus’d’quê
em corguinh’ nem canoa entra.
Pra enrugar água
só mesmo havendo cascatinha
(que gente pobre de queda d’água chama de cachoeira)
Dasvezes que pode ser isso mesmo
já que nome vareia
e em região de escassez
corr’go é riozinh’.
Mas mesmo em havendo birruguinha
corr’go não instruciona pra onda.
Questão de brabeza.

11.
Passei o dia amuado.
Culpa do encranhamento racional
que volta e meia dá doença em erudito
(apesar do meu chucrismo)
Pensei que virada de ano é coisa inventada,
porque continua o mesmal,
mas não teve jeito,
a champagne e o espumante misturados
(além do mar sorrindo e o céu ainda suado)
causaram aquele aperto.

No fundo o ano passou mais que bem
e...
qual o mal em recomeçar,
(mesmo que só em achamento)?

PS - Secado o garrafal pulei sete ondas e quase vi Iemanjá, mas ocorreu que ela (que nem um Tatuzinho que espiei no meio da festa) tendo vindo pra’ssistir ao colorido celeste, não deu conta de ver o povo engarrafando e enrolhando a praia. Correu se esconder de desgosto.

12.
O ano começou abençoado em chuva
que caiu pinicando o mar
O aguaçal agradou
tenteando lavar os restos de festa
Foi água de cá, rum’ oceano
empurrando o lixaçal
e o mar não querendo aquilo não
fazendo onda empurra-empurra
formou um cordão degetal
o que facilitou a garização.

13.
Pulou da nuvem
escorregou impressionando um derretimento de vidro
e brincou de tirolesa no fio de poste.
Divertiu ao homem atento na sacada,
que esperando o tempo estiar,
achou beleza na alegria fiada daquele gotejo

14.
Chuvaréu,
em vila de pescador
toma outra feição
Fica lastimoso

Observado de automóvel
parece choro de ovelha acuada

É um acabrunhamento silencioso
de saber que dia assim não ocasiona pesca
De saber que dia assim
não assegura (me)renda

15.
Começou virar desbenção o chuvaçal
Perdeu graça a brincadeira gotesca
O homem da sacada fez promessa pra Santa Clara
a fim de que o tempo limpasse
e terminou que astiou
Como não descumpre o dito,
quebrou um ovo na praia, em pagamento.
À tarde reescureceu.
Vai ver que a santa não aceita ovo de granja.

16.
O mar bravejou.
Tomou conta da areia.
Agora nem gente, nem gaivota.
Não sei se pelo excesso de chuva, ou de lixo
recebeu mal os chegantes
e fez de quem estava, partinte
Acho que o jeito é fazer rastro.

Resserração

17.
Manacá pintou a serra
desabrochando cor de flor de manacá.
Coisa pouca, mas já deu outra feição.
Não diferenciou muito de gente
que por nada se irreconhece.

18.
A modernidade trouxe mudança pra os serreiros. Dá pra ser mecânico, borracheiro, trabalhar em posto de gasolina e ainda vender suco em engarrafamento. Coisas que não se vê
quando a viajem está num sem-problemas.

Aviso: Quando o andejo problemeia, despoesio de marré deci.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Obs-cenas (contra-indicado a crianças, menores de 15 cm e hipersensíveis)

Perder área de lazer pra rola XGG
cabe adjetivação à fêmea
Já diz o Kama Sutra:
“Pra cada tipo de chavasca, um tipo de piroca”
Só se agrada com pica enorme buceta lasceada
E deve-se perdoar
Nem sempre mulher larga acha par
E o mesmo se dá pra homem ajegado
Pobres minorias...

-------- I

Erudição é coisa que atrapalha
É só arreparar que pra escrever música
(tempo em toada)
dificulto o ideiário.
Já palavreado,
que vai no escorrego da esferográfica
sai que sai desmedado
Risco, rerrisco
e acaba que sai do meu agrado
(mas por motivo do meu escrivinhado
não ter compromisso letrológico)
Bem que eu deveria mandar o musiquismo pras cucuia’

-------- II

Tem gente que está
mas não assim presentaço
Traz uma alegria de pó-de-arroz
e uma cara de quem se preocupa
Mas é só artifício
Lá no fundo não importa
se vai ver ou ouvir a voz
Lá no fundo, tanto faz
a ponto de a pessoa despalavrear
sempre que faz trato
Se diz disso mancada
Não deixa de ser uma deficiência do moral

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Metamorfoseantes

O cotidiano é nada demais
é coisal, igual, sacal.
O que escapa ao mesmal é demais
O que quer que seja
Cada vez que o sol nos molha diferente
a lua nos olha encantada
e as flores nos cheiram admiradas
o dia fica mais sorridente
e a gente sem dar conta
metamorfoseia.
Quando a gente convive
nem repara
mas re-conhece o amigo quase todo dia.
Quando a vida aparta
e depois parelha de novo
a gente percebe o nascemorre do outro
mas nunca o dela.
Gente é coisa esquisita
(ensinou-me meu pai).

Anotações de viagem I

Na volta à minha casa
a luz do sol me acompanhou pela cerca
Ia mesmo à velocidade do ônibus
Podia ter ficado admirando o pasto
as árvores e o gado
já que parecia estar enjoada da sua casa
que era para mim a mais bela cena
(havia ali cores que não se pode ver quando se está sob fumaças)
Mas não,
seguiu-nos
Acho que estava enamorada de mim
(Ou da tecnologia veloz)